segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

A debulha do trigo de forma manual

No mês de Julho, com as ceifas prontas, ou quase e os molhos de cereal concentrados junto das eiras, era tempo de se iniciar a sua debulha. Quem tinha eira com piso de tijoleira (baldosas) ou tipo cimento (mistura de cal preta e areia) podia começar imediatamente, mas havia muitos seareiros que não tinham esse privilégio e ainda tinham que fazer a eira, de preferência num local rochosos e o mais liso possível, não era conveniente fazer a debulha diretamente em cima da rocha e muito menos em fundo de terra, então tinham que tirar um dia para recolher "bóstias" de vacas nos campos onde pastavam e depois mergulhá-las em água, de forma a fazer pasta, a qual era espalhada com ajuda de vassouras feitas de "gestia" e de outros arbustos no local que servia de eira, depois com o sol endurecia o suficiente para sobre esse local serem debulhados todos os cereais do seareiro.
Assim, geralmente começavam pela debulha das favas, porque eram em menor quantidade e já estavam ceifadas há mais tempo e durante um ou dois dias ficavam prontas a guardar! 
O cereal em maior quantidade e importância económica era o trigo, logo o que merecia mais dedicação. 
Conforme a dimensão da eira, assim seria a quantidade de molhos de trigo a debulhar de cada vez, pela manhã,eram atirados do frascal (monte de molhos) 40/50 molhos de trigo para dentro da eira, depois, o seareiro ou mais homens, desatavam os molhos um a um e com um gesto próprio atiravam com o cereal ainda em palha de forma homogénea que ficava colocado um sobre o outro com a altura de 30/40 centímetros e ali ficava até cerca das 11 horas para aquecer com o sol, porque quanto mais quente estivesse, mais facilmente a palha se desfazia e o trigo saía das espigas, através da passagem das muares por inúmeras vezes por cima do "calcador" a andar e a correr puxando um instrumento designado trilho composto por 4/5 rolamentos em madeira impregnados de facas de ferro com cerca de 8 centímetros, que rodavam e em conjunto com as patas das muares cortavam a palha e faziam a debulha do trigo. Seguidamente, se existisse vento, (quando não existia o "calcador" podia estar vários dias na eira, esperando pelo vento para separarem a palha do trigo), procedia-se, então à limpeza do trigo atirando com a palha ao vento com o auxílio de uma forquilha de madeira e como a palha era mais leve do que o trigo ía cair a alguns metros ficando o trigo separado da palha.
Se corresse bem, antes da meia-noite o trigo já se encontrava em sacos para ser guardado em casa e todos os dias esse trabalho era repetido, até ao fim da debulha. No fim, parte dele era vendido nos celeiros de Terena, Alandroal ou Vila Viçosa e outra parte ficava para fazer farinha e alimentar a família durante um ano e para a sementeira seguinte!





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