sexta-feira, 31 de março de 2017

Resenha histórica de Capelins

Resenha histórica de Capelins 
Vias Romanas 
A Via Romana que atravessava as terras de Capelins, estava ligada à XII via, que ligava Lisboa a Mérida, a capital da Lusitânia!


VIA XII - Item ab OLISIPONE EMERITAM m. p. ITINERARIO XII - Lisboa (OLISIPO) - Alcácer do Sal (SALACIA) - Évora (EBORA) - Mérida (EMERITA) CLXI milhas - 238.5 km
Em Alandroal a via deveria passar próximo da villa da Tapada de Vilares (na Carta Arqueológica do Alandroal, Calado indica a azinhaga que atravessa a villa como possível via romana; ver Calado, 1993). A partir daqui é provável que derivasse uma via para Bencatel, uma ligação a Vila Viçosa (passando no vicus marmorarius designado outrora como «Vilares», compreendendo a ermida de S. Marcos, Tapada de Fonte Soeiro e «Fonte da Moura», local onde apareceu um altar votiva de Canidius, IRCP375, hoje no Museu de Vila Viçosa) e para leste rumo ao rio Guadiana em Juromenha. Esta rede viária estaria muito ligada à exploração de mármores da região;
Uma outra via no sentido N-S servia também a actividade mineira oriunda pelo menos desde Capelins que ia atravessar a ribeira de Lucefecit junto do fortim romano do Outeiro dos Castelinhos (importante estrutura romana ao abandono!)
seguindo por Rosário, Mina do Bugalho, S. Brás dos Matos e Juromenha (onde podia atravessar o Guadiana; povoado na Malhada das Mimosas; tessera hospitalis em bronze), seguindo um ramal para o vicus do Monte da Nora em Terrugem (passando entre os casais rústicos do Monte do Outeiro, da Aboboreira e da Queimada em Ciladas) e outro na direcção de Elvas, confluindo todas nos eixos principais rumo a Mérida.
Marco miliário desta via romana! Miliário = indicador de milhas!  
Adaptado de vários trabalhos na net e presença no terreno


quarta-feira, 29 de março de 2017

A aventura do Ti Fura ao fundo do pego de Dona Catarina no Rio Guadiana

A aventura do Ti António Fura na viagem náutica ao fundo do mítico pego de Dona Catarina no rio Guadiana 

O pego de Dona Catarina situa-se/situava-se junto à foz da Ribeira do Lucefécit no rio Guadiana. Desde sempre, foi um pego mítico, falava-se dele nas terras de Capelins como sendo o de maior profundidade nos limites de Capelins.
O Tio António Fura, desde criança, começou a dominar os segredos da água, as correntes, os perigos dos remoinhos e principalmente o domínio do fôlego o que sempre lhe permitiu mergulhar como ninguém. Grande parte da sua vida foi perto da água, desde a dita Ribeira até ao rio Guadiana. Assim, à medida que foi crescendo e ouvindo contar que não existia por aqui, nenhum pego tão fundo, começou a alimentar a ideia de um dia lá nadar e descer até às suas profundidades.
Quando teve o seu barco de pesca, cada vez que navegava pelo referido pego, mais ansiedade sentia em concretizar o seu sonho, deu voltas à cabeça a pensar como havia de fazer, mergulhou lá algumas vezes, mas não conseguia avistar o fundo, fez medições com cordas e pesos, que desciam, desciam, esgotavam-se e não chegavam a sítio firme, mas essas situações ainda lhe davam mais força. Depois de fazer mentalmente os seus planos, contou a um amigo, o Ti Nabais (falecido), que estava decidido a descer ao fundo do pego de Santa Catarina e, que precisava da sua ajuda e não lhe deu tempo para discordar, porque na sua cabeça estava tudo em andamento, foi só marcar o dia e, nesse dia lá estavam os dois, entraram no barco e o Ti Fura remou até ao lugar que já estava cansado de marcar na própria água. Disse ao Ti Nabais, que o mergulho era naquele sítio e o papel dele era segurar ali o barco, para ele se orientar e para o recolher, quando viesse à tona de água, tão simples quanto isso. A seguir, o Ti Fura, sem nenhum preparativo, sem colocar a hipótese de correr mal, sem proteção, sem oxigénio, sem traçar um plano de ajuda no caso de ser necessário, respirou fundo e desapareceu nas águas do pego de Dona Catarina e o Ti Nabais ficou a tomar conta do barco. O Ti Nabais, esperou, esperou, passou o tempo considerado normal e ele entrou em desespero, sem saber o que fazer, começou aos gritos: Fura, Fura, Fura, ai meu Deus, já não vem para cima e começou a chorar num grande pranto. Quando já não tinha esperança que o Ti Fura sobrevivesse, apareceu ele à tona de água, muito fresquinho, porque, conforme contou depois de concluída aquela aventura, o que mais lhe custou foi aguentar o frio, uma vez que, quanto mais descia, mais gelada estava a água mas nunca lhe passou pela cabeça desistir, o objetivo era atingir o fundo do pego de Santa Catarina, onde nos nossos tempos, nunca nenhum ser humano tinha chegado e, assim conseguiu concretizar o seu velho sonho, com risco da própria vida! 
Quem o conhece, bem sabe que o Ti António Fura, tinha que descer ao fundo do pego de Dona Catarina! 


Era aqui o pego de Dona Catarina


sábado, 25 de março de 2017

Resenha histórica da pesca no rio Guadiana, nas terras de Capelins


Resenha histórica da pesca no rio Guadiana, nas terras de Capelins 

Através das pinturas rupestres que se encontram submersas pelas águas do Grande Lago de Alqueva, verificamos que na Defesa de Bobadela, junto ao lugar denominado Moinhola, (Minhola) que há 5.000 anos os povoadores aqui instalados já pescavam. Não conseguimos perceber nesses desenhos nas rochas, como era feita a captura do peixe, mas decerto, que seria com armadilhas e, à lapa (esta, deve ser a forma mais velha e fácil de pescar, desde que conheçam os lugares onde existem buracos nas rochas ou protegidos por pedras é só tapar a saída meter a mão e apanhar os peixes que lá estiverem dentro). Porém, são conhecidas armadilhas mais ou menos rudimentares, feitas artesanalmente de vegetação e arbustos encontrados no rio, como as nassas, os galritos e outras. Mais tarde, surgiram outros apetrechos de pesca mais modernos, como a atarrafa os tresmalhos e a cana de pesca. 

Ao longo dos tempos, as espécies de peixe foram variando no rio Guadiana, sabemos as que existiam nos últimos anos, mas também sabemos as que existiam há cerca de 260 anos, através de fontes muito seguras, pelos Párocos de, Juromenha de Capelins e de outras Paróquias que fazem fronteira com o rio Guadiana. 

A pesca no rio Guadiana, na maior parte dos casos, era um complemento à economia familiar, mas também para "paródias", festas de famílias e amigos, realizadas junto ao rio ou nos moinhos, onde alguns grupos se instalavam, por vezes, durante dias ou semanas, comendo peixe em caldetas e fritos, acompanhados com bom vinho e outras bebidas! 
Nas terras de Capelins, a pesca no rio Guadiana foi praticada desde sempre, podemos confirmar através das pinturas rupestres da Moinhola com mais de cinco mil anos. 
Mais recentemente, a pesca era uma atividade para fins de complemento da economia doméstica e com fins lúdicos, também a confeção de redes de pesca era efetuada pelos próprios pescadores, como o Ti António Fura, o Ti Miguel “Aninho”, o Ti Venâncio e outros. No rio Guadiana praticavam-se diversas formas de pesca. Nas terras de Capelins as mais frequentes eram à tarrafa, “tresmalho”, “guito”, lapa, e com armadilhas, nassas e galritos. No caso da tarrafa, o lançamento era feito, geralmente a partir das margens do rio Guadiana, enquanto o tresmalho era armado e recolhido a partir de um barco feito de madeira.
O fabrico da “tarrafa”, era feito em casa do pescador ou mesmo no rio Guadiana, nas horas em que esperavam a recolha dos tresmalhos ou das armadilhas. Normalmente, cada pescador fabricava as suas próprias artes de pesca. O Ti António Fura fazia tarrafas com dois instrumentos que ele também fazia de esteva ou outra madeira a “agulha”, uma espécie de estilete usado para conduzir o fio da rede, e o “malheiro”, utilizado para fixar a largura das malhas da rede. A parte superior da rede era fixada num suporte mais alto, até numa arvore, para dessa forma se desenvolver. O início da rede desenvolvia-se a partir de um número reduzido de malhas ou “pombinhas”, geralmente vinte, variando o número de malhas de acordo com o tamanho final pretendido para a tarrafa. A cada duas voltas, aumentava-se uma malha, diminuindo o seu tamanho à medida que se tecia a rede. Uma rede de pesca podia demorar um mês ou vários a ser concluída, depois ainda tinha de ser chumbada. Também as chumbadas eram feitas pelo pescador e levava alguns dias a fazer e a chumbar. O chumbo era derretido dentro de uma forma aquecida ao lume que depois de passar por dentro de água fria era aberta tipo alicate e a chumbada saía pronta para ser aplicada à rede. Uma tarrafa podia durar até dez anos ou mais, dependendo do uso.
A pesca à tarrafa só era feita em pegos pouco profundos e para a lançar, o pescador entrelaçava a parte superior da rede ao pulso e, de seguida, apanhava parte da “saia” colocando-a ao ombro. Segurava com a mão direita a outra parte, ficando o resto caído em frente ao corpo. Por fim prendia um chumbo com a boca e o outro com a mão direita. Na zona do rio escolhido, a tarrafa lançava-se sobre a água. De seguida, a rede era puxada pela corda do vértice, arrastando a chumbada pelo fundo até que se juntasse, puxando-a finalmente para si, (importa salientar que, cada um, lançava a tarrafa como melhor sabia).

Lançada à mão por um só homem, a partir das margens do rio, a tarrafa era recolhida pouco depois, repetindo-se a faina sempre que necessário. 
O Ti António Fura e, quase todos os pescadores de Capelins, pescavam o ano todo, bastava haver procura, embora houvesse algumas épocas do ano em que a pesca era mais abundante.
Para pescar usavam-se várias técnicas conforme a altura do ano e o caudal do rio. Em Março e Abril o rio Guadiana ainda tinha grande caudal, porque as Ribeiras e Ribeiros ainda metiam muita água. Nessa altura, em tempos mais recuados nos sítios mais baixos de água construíam armadilhas para apanhar os peixes. Usava-se o galrito, que o Ti Fura fazia, geralmente de buinho, mas podia ser feito de verga, o qual permitia a entrada dos peixes e dificultava a sua saída depois de terem entrado.
O galrito era instalado dentro da água, quase sempre onde havia areia, à noite e com a boca voltada contra a corrente, de forma a que a água corrente o mantivesse aberto e esticado. 
A sua instalação era feita com a ajuda de ramos de amieiro presos na areia, dispostos em cone no sentido da corrente com o galrito aí colocado. Como, durante a noite, os peixes ao nadarem viam os ramos dos amieiros tinham tendência a deslocar-se ao longo deles para poderem encontrar uma passagem, quando a encontravam, entravam no galrito de onde já não era fácil sair.

De madrugada, os pescadores iam aos galritos, armados na noite anterior e recolhiam os peixes. Nem sempre corria bem, como o rio tinha mais animais, como as cobras de água, às vezes adiantavam-se aos pescadores e deixavam os galritos sem peixe. Tal como a pesca à tarrafa, também este tipo de pesca não era autorizado, mas mesmo assim era praticado.
Quando se passou da pesca artesanal, feita através da dita tarrafa e outras armadilhas, para a pesca profissional, nas terras de Capelins, temos que nos referir ao Ti António Fura, um dos maiores, senão o maior pescador profissional das terras de Capelins e talvez não seja exagero, de todo o Alentejo interior. Como referimos, também pescou muitos anos com artes artesanais, porque começou a pescar ainda era criança, mas ao legalizar-se como pescador profissional adquiriu tresmalhos, grandes redes que ligadas quase atravessavam o rio Guadiana, proporcionando grandes pescarias. o Ti António Fura tinha um barco de pesca com o qual armava os tresmalhos, se o tempo estivesse de feição, geralmente, a faina começava cerca da meia noite, saía com o barco que estava ancorado no lado direito à foz da Ribeira do Lucefécit, levava dois tresmalhos, depois em local estratégico que só ele conhecia, com uma corda, prendia a ponta do tresmalho num amieiro ou outro arbusto e sempre navegando ia desenrolando o tresmalho e ajeitando dentro de água, quando o primeiro estava no fim, ligava outro tresmalho e continuava a desenrolar o segundo até um lugar onde o pudesse prender a outro arbusto, que ele já conhecia e, ficava a primeira parte do trabalho feita, que era melhor com um remador, mas ele mesmo sozinho fazia tudo. Depois, voltava a terra comia alguma coisa e pelas quatro ou cinco da manhã começava a levantar os tresmalhos, um trabalho que levava um pouco mais de tempo, porque tinha de tirar o peixe do emaranhado e juntá-lo no fundo do barco, com o cuidado de não o deixar saltar, porque alguns davam saltos de metros e lá voltavam à água, mas o Ti Fura sabia o que fazer para o peixe não lhe abalar. Os tresmalhos eram colocados de forma a não se enlearem senão mais tarde estava sujeito a grande trabalho. O horário e a faina que aqui se descreve, nem sempre era exatamente igual, porque dependia da época e das correntes do rio Guadiana.
Pelas seis ou sete da manhã, já estava a caminho dos locais de venda do peixe e que peixe, tanta gente com saudades deles! 
Em Capelins, nunca mais temos desse peixe!
Bem haja tio Fura, grande homem, grande pescador, grande nadador do rio Guadiana!



Arte rupestre submersa no Lugar de Moinhola - Capelins


A importância da chaminé nas casas das terras de Capelins

A importância da chaminé nas casas das terras de Capelins 

A Chaminé de uma casa era um duto que fazia a comunicação entre o interior o exterior e vice versa da dita. Eram feitas em alvenaria de forma a não permitir a entrada de águas pluviais nem vento, integradas e sobressaindo em altura em relação à casa, por cima do telhado e serviam para capturar e transferir para o exterior os fumos do lume e os cheiros indesejáveis, como ventilação. 

 Na sua base, dentro da casa, ou seja na cozinha, desenvolvia-se quase toda a vida das famílias. No inverno, era ao lume à chaminé que estavam, que riam, que choravam e que alguns morriam. As refeições eram preparadas ao lume na chaminé, eram servidas à chaminé, o serão era passado à chaminé a falar, a ouvir contos e, alguns dormiam à chaminé. O lume na chaminé aquecia toda a casa e nem o fumo se desperdiçava, o que não era consumido, secava as carnes das matanças dos porcos que durava para todo o ano. Era à chaminé que amassavam a farinha para fazer o pão, faziam trabalhos de costura e outros que pudessem ser desenvolvidos naquele espaço. Ainda hoje, as casas que estão em ruínas, geralmente a chaminé é a ultima parte da casa ou do Monte a ceder, ficam até ao fim, talvez na esperança de aqueles que elas aqueceram os que ali viveram sobre a sua proteção, ainda voltarem e muitas continuam teimosamente em pé há centenas de anos!

Chaminé da casa da Ermida de Nossa Senhora das Neves em Capelins! 



domingo, 5 de março de 2017

As Preces para Pedir Chuva a Santo António




As Preces para Pedir Chuva a Santo António

As Preces são um conjunto de orações e rogos que se faz a um santo ou a Deus para agradecer ou pedir. Podem ser feitas de forma escrita, por pensamento, falada, (rezada), ou cantada. 
Nas terras de Capelins, as mais conhecidas eram as Preces para pedir chuva. Quando não chovia na Primavera, nos meses de Março e Abril, as searas de trigo e de outros cereais não se desenvolviam e algumas em terras mais fracas e mais secas desapareciam totalmente e, os seareiros não colhiam nada o que significava uma desgraça para toda a comunidade de Capelins, porque, mesmo os que não eram seareiros acabavam por ser envolvidos, o mais certo era ficarem desempregados. Então, assim que se começava a sentir a seca, as habituais organizadoras reuniam-se para planear e decidir quando deviam começar a novena! Assim que era decidido, em poucas horas todas as pessoas da Aldeia e arredores sabiam o horário em que deviam comparecer na Igreja de Santo António, durante nove dias consecutivos! Neste espaço temporal, através de orações e cânticos pedia-se, ou exigia-se a Santo António para que viesse chuva porque os nossos campos estavam secos. No final dos nove dias se não chovesse era organizada uma procissão com a imagem de Santo António, entre a sua Igreja e a Ermida de Nossa Senhora das Neves, sempre na esperança de, no caminho, começar a chover. No caso de não chover a imagem de Santo António ficava na Ermida de Nossa Senhora das Neves e a novena continuava, mas nesta Ermida e, Santo António, como castigo, não voltava à sua Igreja enquanto não chovesse, passando, grandes temporadas nesta Ermida, sempre até ao dia em que cumprisse o seu dever, que era o de mandar a chuva! Conta-se que, num ano de novenas, os/as crentes já não tinham esperança nenhuma que viesse chuva, decidiram acabar com as Preces e levar a Imagem de Santo António para a sua Igreja. Porém, no dia que o fizeram, saíram da Ermida de Nossa Senhora das Neves com o céu limpo e sem nenhuma aparência de nuvens e muito menos de chuva, mas quando vinham a meio caminho começou a chover, acreditaram que foi um milagre, o qual ficou registado na memória dos capelinenses, cujo testemunho tem passado de geração em geração! 

Fim

Povoado de Miguéns - Capelins - 5.000 anos

  Povoado de Miguéns -  Capelins - 5.000 anos Conforme podemos verificar nos estudos de diversos arqueólogos, já existiam alguns povoados na...