sábado, 25 de novembro de 2017

Orações e Mesinhas de Capelins

As Orações e Mesinhas Para Todos os Males - Capelins
Antigamente, nas terras de Capelins, era muito comum recorrer a rezas e benzeduras para se protegerem a si e aos seus familiares! Entre as rezas contra todos os males, doenças, maus olhados ou quebrantos, pés torcidos, colunas descaídas e outros, mas, também existia/existe uma oração para encontrar objetos perdidos ou roubados que, eram os responsos, entre os quais, o de Santo António, do qual conhecemos pelo menos 4 versões, mas o que importa é a fé, todas as versões têm o mesmo fim!
A palavra "responso" provém do latim e, significa "resposta" ou "procura de resposta"! 

A seguir, relatamos um caso passado nas terras de Capelins, onde um rapaz perdeu um utensílio, nesse tempo muito importante para ele, recorreu a um homem com poderes para responsar, o qual, alguns dias depois, lhe garantiu que o utensílio aparecia, dentro de pouco tempo, quando ele menos esperava e apareceu! 

A Fé do José Luís, de Capelins, pelo Responso de Santo António

O pai do José Luís, como habitualmente, fez um meloal na parte mais baixa da courela do Cebolal, onde semeava umas casas de melão, de melancia e alguns regos de feijão careto (feijão frade). Nesse ano, as plantas estavam muito bonitas, mas precisavam de ser cuidadas, principalmente, muito bem cavadas e, a terra bem desfeita para assentar as ramas e futuros melões e melancias e para manter a fresquidão durante o verão que se aproximava, cujo trabalho, entre outros, como tratar das ovelhas e outros animais da da casa, estava a cargo do José Luís que, já tinha quase 10 anos e, bom corpinho para trabalhar, incluindo cavar o meloal! Assim, numa tarde no início do mês de Junho de 1925, o José Luís nessa tarefa na parte do feijão careto e começou a ouvir trovões, coisa que acontecia quase diariamente nos meses de Maio e início de Junho nesses tempos, continuou o seu trabalho e, a trovoada que vinha do sul, dos lados de Espanha, estava cada vez mais próxima, mas ele não podia ir-se embora e aparecer a casa, a Capelins de Cima, sem uma boa justificação, estava com medo porque a trovada era forte, mas foi ficando até começar a chover, aqui decidiu que estava na hora de fugir para casa, onde já chegaria todo molhado, mas não se importava com isso, depois com o calor do próprio corpo, a pouca roupa, logo enxugava, mas ao mesmo tempo que estava a a fuga, o chão  tremeu debaixo dos seus pés devido a um forte trovão e ele parou imediatamente, apanhou grande susto, depois lembrou-se que os mais velhos lhe diziam-lhe que nunca tivesse contacto com um objeto de metal debaixo se uma trovoada, porque os raios atraiam ao metal e, podia morrer, como tinha o sacho (sachola) com o qual andava a cavar o meloal às costas, arrepiou-se todo, podia ter morrido ali, então já não o foi esconder no lugar habitual, abriu rapidamente um rego no limite da terra que já tinha cavado, como sinal onde o mesm ficava enterrado, depois no dia seguinte ia direitinho a esse lugar e, continuava o trabalho no mesmo lugar onde tinha ficado! A seguir começou a correr sem parar até ao portão do lagar do Monte Grande, onde chegou a escorrer água da cabeça aos pés, abrigou-se ali, durante algum tempo, até a trovoada passar mais e permitr-lhe chegar a casa, devido à grande chuvada já não voltou ao meloal! Nos dias seguintes, todas as tardes, a partir das quatro/cinco horas, continuaram as trovoadas e, o trabalho de cavar o meloal ficou parado mais de oito dias! No dia em que teve de voltar a esse trabalho, chegou ao meloal e reparou que a terra estava toda com o mesmo aspeto, devido às grandes chuvadas não existia qualquer diferença e,  lembrou-se de começar novamente a cavar as casas de melão e melancia, o feijão careto, que ele nem gostava, podia esperar, dirigiu-se ao lugar onde habitualmente escondia o sacho, atrás do poço no meio de uma moita de funcho, mas não havia sinais dele e, pensou logo, foi roubado! Depois de procurar em todos os lugares, em redor não o encontrou, ficou preocupado, porque um dia tinha de prestar contas sobre o seu desaparecimento, podia sempre dizer que tinha ficado no sítio habitual e foi roubado, mas não se livrava do peso na consciência!  sem sacho, teve de voltar a Capelins de Cima   buscar outro, mas não deixava de pensar o que teria acontecido e não lhe veio à ideia o episódio do dia da trovoada! 
Depois de muito pensar, lembrou-se de o mandar responsar, porque ouvia dizer que o ti Manoel da Roza sabia uma oração e se a rezasse antes de se deitar de noite sonhava com o que tinha acontecido ao objeto perdido ou roubado! Como isso não lhe saía da cabeça, dois/três dias depois, espreitou o Ti Manoel da Roza, que era seu tio avô e fez por se encontrar com ele, meteu conversa sem nexo, até lhe perguntar se era verdade que ele sonhava com as coisas que desapareciam? O ti Manoel disse-lhe que sim, era verdade! Então porquê? Perdeste alguma coisa? Perguntou o ti Manoel! O José Luís disse-lhe que sim e contou-lhe sobre o que tinha desaparecido! O ti Manoel disse-lhe que, dentro de dois ou três dias dava-lhe a resposta, onde estava o sacho e se aparecia, ou não! O José Luís todos os dias aparecia à frente do ti Manoel na esperança de já ter a resposta, mas só no fim do tempo prometido ele lhe garantiu que o sacho aparecia e, não demorava muito tempo! O  José Luis ficou muito contente, esperando encontrar o sacho a todo o momento, mas o tempo foi passando, acabando por se esquecer! Um dia, andava a cavar o feijão careto e sentiu o sacho a prender e ao puxar com mais força, ficou com o sacho perdido junto dos seus pés!
A partir daquele dia, ficou com muita fé no responso de Santo António  e, convencido que tudo o que se perdesse ou fosse roubado, ao ser responsado a santo António, decerto aparecia! 



Uma das versões do responso de Santo António 
(Não é a das terras de Capelins)

- Ó Beato Santo António que em Lisboa foste nado,
Em França visitado e em Roma coroado,

Pelo cordãozinho que cingiste, pelo livrinho que rezaste.

Na casa de Santa Paula tuas mãozinhas lavaste.

Peixinhos da água se levantaram
Para ouvirem a tua santa pregação.
- Santo António, p' ra onde vais?
- Eu, Senhor, convosco vou!
- Tu Comigo não irás, tu na Terra ficarás,
Todo vivo guardarás,
Todas as coisas esquecidas “alembrarás”,
Todas as coisas perdidas acharás...
- Em busca, em busca São Silvestre,
Tamanha boca, tamanho sestro:
Se a tiveres fechada não a abrirás,
Se a tiveres aberta não a fecharás.
Tem-te, tem-te Madalena, que mas queiras “alembrar”,
Estas são as Cinco Chagas que por nós têm de passar,
Pequenino pelo grande, para a todos Deus nos Salvar.
- Assim como Santo António livrou seu pai de sete sentenças falsas,
Assim nos livre da má fama, da má companhia,
E nos guarde os nossos animaizinhos e as nossas coisinhas
De noite e de dia.
Padre Nosso... Avé Maria... 




domingo, 19 de novembro de 2017

Gastronomia de Capelins - O assado de borrego

Gastronomia de Capelins 
O assado de borrego

O assado de borrego era/é um prato que fazia/faz parte da gastronomia das terras de Capelins, era/é preparado nos dias de festa, nos fornos aquecidos a lenha (atualmente já raramente)! Após a cozedura do pão, o forno ainda ficava quente e, o borralho (brasas envolvidas em cinza quente) que ficava encostado a um dos lados do forno era remexido aumentando o calor que ainda dava para assar peixe em tabuleiros de lata, assim como, borrego ou cabrito em assadeiras de barro.

Borrego ou cabrito assado no forno de lenha: 


Ingredientes:
  • 1 kg de carne de borrego ou cabrito
  • Batatas q.b.
  • 1 cebola grande
  • 4 dentes de alho
  • banha de porco q.b.
  • 2 folhas de louro
  • 1 dl de vinho branco
  • Sal (já está no tempero da carne)

    Preparação:
    1. Arranje a carne com o cuidado de lhe retirar os sebos e o bedum!
    2. Tempere a carne com sal, com os alhos picados,e regue com o vinho branco, adicione o louro e deixe a marinar de um dia para o outro!
    3. Coloque a carne numa assadeira de barro de ir ao forno de lenha e adicione 2/3 colheres de banha de porco e a cebola cortada em gomos! 
    4. Leve ao forno de lenha para assar lentamente!
    5. A meio da cozedura junte batatinhas!
    6. Vá vigiando e regando o assado com o molho do mesmo! 
    7. Conforme o aquecimento do forno, assim será o tempo de o retirar, mas, um pouco antes de duas horas!


    sábado, 18 de novembro de 2017

    História de vidas de Gentes de Capelins 1700

    História de vidas de Gentes de Capelins 1700

    A Casa do Infantado instalou-se na Vila de Ferreira (atual Freguesia de Capelins) no ano de 1698 e, por consequência, logo a seguir verificou-se grande movimento de povoadores para estas terras que, decerto começaram a ser exploradas mais intensivamente, necessitando de muita mão de obra e, também devido aos privilégios concedidos! Assim, podemos verificar nos Assentos Paroquiais da Paróquia de Santo António (Capelins), que no ano de 1717, há exatamente 300 anos, foram realizados pelo Pároco Miguel Gonçalves Gallego, 4 matrimónios na Igreja de Santo António, nas seguintes datas e nubentes:

    Dia 15 de Maio de 1717
    Domingos Gliz, solteiro, com 
    Izabel Roíz, (viúva de Manoel Nunes)
    Ele - natural da Freguesia de São João - Sabugal - Guarda
    Ela - natural da Freguesia de Santo António

    Dia 01 de Agosto de 1717
    João Dias, solteiro, com 
    Joanna de Campos, solteira 
    Ambos naturais da Freguesia de Santo António 

    Dia 17 de Julho de 1717 
    António Clemente, solteiro, com 
    Izabel Gomes, solteira
    Ele - natural de Celorico da Beira - Guarda
    Ela - natural da Freguesia de Santo António 

    Dia 04 de Outubro de 1717 
    Pedro Afonço, solteiro 
    Maria da Cruz, solteira
    Ele - natural da Freguesia de São Tiago, Monsaraz 
    Ela - natural da Freguesia de Santo António. 

    Na constituição dos quatro casais, podemos verificar que três elementos do sexo masculino eram migrantes, vindo alguns de localidades muito distantes destas terras, que por aqui ficaram e, muito contribuíram para a identidade do povo capelinense. 

    Casamentos de 1717 - 300 anos 


      



    quinta-feira, 16 de novembro de 2017

    Casamentos realizados na Igreja Paroquial de Santo António de Capelins em 1835

    Casamentos realizados na Igreja Paroquial de Santo António de Capelins em 1835 
    Após terminar a guerra civil portuguesa, de 1828 a 1834, a Casa do Infantado foi extinta e,  a Vila de Ferreira (atual Freguesia de Capelins) voltou à Coroa, foi dividida em pequenas herdades e propriedades e vendidas aos rendeiros e, a outros interessados, muitos vieram de outras localidades vizinhas, de Cheles e de outras distantes, verificando-se uma grande mudança em termos económicos e sociais na Freguesia de Capelins a partir desse ano, ainda pouco percetível no ano de 1835, talvez por isso, nesse mesmo ano foram registados apenas três casamentos, realizados na Igreja Paroquial de Santo António de Capelins, os quais passamos a descrever, datas, nubentes e Párocos: 

    Dia 22 de Julho de 1835 
    João José, solteiro, casou com 
    Antónia Maria, (viúva de Luis António)         
    Ambos naturais da Freguesia de Santo António de Capelins 
    Pároco: Frei Bernardino

    Dia  11 de Outubro de 1835 
    Salvador Gonçalves, (viúvo de Maria da Conceição), casou com 
    Justina Maria, (viúva de José Diogo que faleceu no ataque militar no Porto, na guerra civil de 1828/1834)
    Ambos naturais da Freguesia de Santo António de Capelins  
    Pároco: António Laurentino Sopa Godinho 

    Dia 25 de Outubro de 1835 
    José Joaquim Rasteiro, (viúvo de Maria Antónia), casou com 
    Francisca Ignácia, solteira 
    Parentes em 2º grau 
    Ambos naturais da Freguesia de Santo António de Capelins 
    Pároco; António Laurentino Sopa Godinho 

    Como não existe história sem a intervenção de pessoas, neste caso, apresentamos e homenageamos os capelinenses que fazem parte da história das terras de Capelins e, casaram na Igreja de Santo António de Capelins no ano de 1835, há 182 anos.

    Casamentos em 1835



    quarta-feira, 15 de novembro de 2017

    Matrimónios realizados na Igreja Paroquial de Santo António de Capelins no ano de 1817

    Matrimónios realizados na Igreja Paroquial de Santo António de Capelins no ano de 1817 
    Ao consultarmos os registos Paroquiais da Paróquia de Santo António de Capelins, podemos constatar que no ano de 1817 (há 200 anos), foram realizados na Igreja Paroquial de Santo António de Capelins seis casamentos, pelo Pároco Marcos Gomes Pouzão, cujas datas e nubentes foram os seguintes:

    Em 12 de Fevereiro de 1817:
    João Ramalho - Lavrador da herdade do Seixo, com,
    Dª Maria da Conceição (viúva do capitão Manoel Jorge) 
    Ele - natural da Freguesia de Nossa Senhora das Neves das Vidigueiras - Monsaraz 
    Ela - natural da Freguesia de Santo António de Capelins

    Em 16 de Fevereiro de 1817
    Manoel Rosado, com
    Clemencia de Jesus (Viúva de António Martins Godinho) 

    Em 4 de Maio de 1817 
    Francisco Marques, com
    Micaella Maria 
    Ele - natural da Freguesia de Santo António de Capelins 
    Ela - natural da Freguesia de São Marcos do Campo 

    Em 17 de Agosto de 1817 
    Manoel Martins, com 
    Roza Maria 
    Ambos naturais da Freguesia de Santo António de Capelins 

    Em 28 de Setembro de 1817 
    António Joaquim, com 
    Maria Baptista 
    Ele - natural da Villa de Cheles 
    Ela - natural de Santo António de Capelins 

    Em 12 de Novembro de 1817 
    José Marques, com 
    Maria Francisca 
    Ele - natural da Freguesia de Santiago de Terena 
    Ela - natural da Freguesia de Santo António de Capelins 

    Foram estas pessoas, nossos antepassados, que casaram em Santo António de Capelins no ano de 1817, há dois séculos, que contribuíram para a história das terras de Capelins! 

    Casamentos em 1817




    domingo, 12 de novembro de 2017

    A identidade da Comunidade Capelinense

    A Identidade da Comunidade Capelinense

    Após vários anos de pesquisas sobre o passado das gentes e das terras de Capelins, concluímos que, a Vila Defesa de Ferreira existiu entre 1314 e 1836, podemos confirmar em vários documentos e, também nas Memórias Paroquias de 1758, escritas pelo Pároco Manoel Ramalho Madeira, o qual, escreveu que, nessa data, ainda existia a Vila de Ferreira, a qual, era uma Defesa, logo Vila Defesa de Ferreira, cujo dono era o senhor Infante (Casa ou Estado do Infantado). Assim, a Vila Defesa de Ferreira era, quase todo o espaço geográfico da atual Freguesia de Capelins, exceto Faleiros e as herdades de Nabais e Sina e, a Vila ou Lugar de Ferreira, como é designada em vários documentos de diversas Chancelarias reais, ficava junto à Ermida de Nossa Senhora das Neves e, no alto em frente à dita Ermida, até ao Monte de Ferreira. Nesse alto, podemos ver os silos comunitários, ou cisternas, um deles, atualmente tapado com lenha, é semelhante a um pote de grandes dimensões, onde talvez guardassem cereais de reserva e esconderijo, para abastecimento da comunidade da dita Vila.

    Em 1799/1800 ainda existiam 32 casas de habitação junto à Ermida de Nossa Senhora das Neves! 
    Para reconstrução da identidade desta comunidade com mais de 700 anos de história, temos de conhecer quem foram, como viviam em termos económicos e sociais, os lugares onde viviam, ou seja, a sua história, lendas, costumes e tradições. Pelo que, será esse conjunto de sementes que constitui a identidade da comunidade capelinense. 
    Entre 1262 e 1314, estas terras faziam parte da herdade de Terena, mas já muito antes do domínio cristão, desde o período do Paleolítico, existiram vários povoados em todo o vale do rio Guadiana, com maior incidência entre o sítio do Bolas e Cinza e, entre o lugar da Moinhola e do Gato e, da Ribeira do Lucefécit, no outeiro dos Castelinhos, Roncão e Azenhas Del-Rei, assim como, noutros lugares desta Freguesia!
    A Freguesia de Capelins ou Paróquia, em analogia com outras nesta região, parece-nos existir desde meados da centúria de 1500, porque a visitação do clérigo do Arcebispado de Évora em 1534, ainda foi à então Igreja Matriz de Santa Maria, nas (Neves) na Vila de Ferreira e parece que não foi a Santo António. 
    Até 1793, esta Freguesia, designava-se de, Santo António Termo da Vila de Terena. Em 04 de Junho de 1793, num Registo de óbito escrito pelo Vigário António Pina Cabral surge Igreja de Santo António de Capelins, assim, Capelins é associada à Paróquia ou Freguesia. 
    O referido Registo de Óbito, como outros que se seguiram, além da assinatura do Vigário, também têm as assinaturas dos seguintes moradores, que desconhecemos quais as suas funções, mas pensamos serem o Alcaide e Vereador da Câmara da Vila de  Ferreira: 
    Gaspar Rodrigues Margalho (casou em Santo António em 06-06-1788)
    Caetano José de Amaral (casou em Santo António em 14-10-1781). 

    Correia Manuel

    Lugar de Ferreira Medieval, hoje Neves, em Capelins


    domingo, 5 de novembro de 2017

    Vale Sagrado do Lucefécit

    Vale Sagrado do Lucefécit 

    Conforme podemos verificar na presente informação da Direção Geral do Património Cultural - DGPC, o Vale da Ribeira de Lucefécit, está em vias de classificação com a designação de Vale Sagrado do Lucefécit, esperamos, assim, que no mesmo seja englobada a Ermida de Nossa Senhora das Neves, do século XVII. 
    "O território onde se integra o vale da ribeira de Lucefecit que se propõe classificar com a designação geral de Vale Sagrado do Lucefecit, corresponde ao último troço desta linha de água que, nascendo na Serra de Ossa, atravessa o concelho do Alandroal desaguando no Guadiana, entre o sítio da Rocha da Mina e a foz deste rio, incluindo, também, vários afluentes onde se situam distintos vestígios de antigas ocupações humanas.
    Os valores que se pretendem preservar integram-se numa unidade de paisagem com caraterísticas únicas quer em termos naturais, como culturais, englobando aspetos geológicos, ecológicos, arquitetónicos e arqueológicos.
    Desde longa data aproveitada para pastorícia, atividades agrícolas e mineiras, esta região foi igualmente muito marcada, ao longo de séculos, por diversas práticas religiosas centradas em locais muito próximos da ribeira de Lucefecit.
    De facto, verifica-se que em termos patrimoniais o território deste vale encerra grande quantidade de sítios arqueológicos, sendo desde logo de destacar o sítio de São Miguel da Mota, classificado como Imóvel de Interesse Público, onde se sobrepõem estruturas de várias épocas, nomeadamente um povoado fortificado da II Idade do Ferro, um Santuário, posteriormente romanizado dedicado a Endovellicus, a divindade mais conhecida da Lusitânia e, finalmente, a Ermida de São Miguel da Mota, um templo já cristão. Neste local, além de terem sido encontradas inúmeras inscrições dedicadas a Endovélico, foram identificadas diversas peças escultóricas, nomeadamente em 2002, altura em que foram descobertas seis estátuas em mármore branco de grandes dimensões. Os materiais romanos resultantes das intervenções mais recentes apontam também para um período de ocupação situado entre os séculos I e II. Na encosta Este do Cabeço da Mota, foram igualmente realizadas algumas sondagens arqueológicas que parecem demonstrar que seria aí que se localizava este importante Santuário.
    Na margem direita de Lucefecit, num esporão rochoso com vertentes abruptas, localiza-se igualmente o sítio arqueológico da Rocha da Mina cujos trabalhos arqueológicos realizados entre 2011 e 2012, apontam para a presença de um outro santuário pré-romano. É de destacar a existência neste sítio de um conjunto de degraus associados a um pavimento talhado no afloramento rochoso, elementos que, habitualmente, são descritos como "altares de sacrifício", bem como a presença, no mesmo local, de um poço quadrangular com pouca profundidade. Ao longo deste território, distribuídos por diversos cabeços sobranceiros à ribeira, pontuam vestígios de outros povoados fortificados como no sítio do Castelo Velho classificado como Monumento Nacional, do Outeiro dos Castelinhos ou de Águas Frias, este último, parcialmente submerso pelas águas da albufeira do Alqueva. Igualmente são conhecidas neste território diversas estruturas megalíticas como a necrópole do Lucas, perto da Aldeia das Hortinhas, composta por quinze pequenas antas localizadas a Sul da ribeira de Lucefecit, bem como antigas minas do período romano.
    É igualmente de destacar o importante conjunto de testemunhos de património imaterial como diversos cultos, festas, procissões ou peregrinações religiosas de períodos mais recentes". 

    DGCP

    Ermida de Nossa Senhora das Neves - Capelins 



    sábado, 4 de novembro de 2017

    A ampliação da Igreja de Santo António de Capelins em 1891

    A ampliação da Igreja de Santo António de Capelins em 1891 
    Conforme Túlio Espanca, (Inventário Artistico de Portugal, 1978): 
    "Do primitivo edifício, com traça dos fins do século XVI (...) apenas subsiste o presbitério cupular, algumas empenas laterais de cornijas polilobadas, em grossa alvenaria rebocada, e, o portal granítico, adintelado, de verga losângica e cruz relevada.
    A fachada, de frontão arredondado, sofreu uma profunda modificação na centúria oitocentista que alterou as proporções da nave e lhe fez perder o alpendre (...)! 
    O interior de planta retangular, compõe-se de nave muito alongada, hoje de abóboda redonda mas que era de tabuado, (...)! 
    Conforme o Pároco Manoel Ramalho Madeira, (Memórias Paroquiais de 1758):
    A Igreja: "O seo Orago he Santo António (...) não tem naves, he forrada de madeyra)"! 
    Nestes dois testemunhos, podemos aferir que existiram grandes alterações estruturais na Igreja de Santo António entre 1758 e 1978, em 220 anos! 
    Até aqui, existia mais um segredo das terras de Capelins: Em que ano se deu a grande modificação na estrutura desta Igreja? É verdade que, Túlio Espanca escreve que foi no centauro de 1800, sem indicar o respetivo ano! Pensamos que, para umas obras tão grandes, tinha de existir algum tempo de suspensão da atividade religiosa nesta Igreja, assim, fomos percorrer os assentos de nascimentos e casamentos dos anos de 1800, até chegarmos ao ano de 1891, no qual, pelo menos entre o mês de Agosto e o mês de Novembro desse ano, quatro meses, a Igreja Paroquial foi a Igreja de Nossa Senhora das Neves, onde se realizaram 10 matrimonios, dos 17 desse mesmo ano! 
    Neste contexto, sem prova em contrário, foi no ano de 1891 que se deu a grande alteração estrutural da Igreja de Santo António de Capelins! 
    Os matrimónios realizados na Igreja de Nossa Senhora das Neves, e datas, foram os seguintes:
    1 - Dia 2 de Agosto de 1891
    Joaquim Ramalho
    Mariana de Jesus
    2 - Dia 9 de Setembro de 1891
    Gaspar Ramalho
    Domingas Isabel
    3 - Dia 13 de Setembro de 1891
    Balthasar Rosado
    Maria Narcisa
    4 - Dia 27 de Setembro de 1891
    Joaquim Balthasar 
    Maria Catharina 
    5 - Dia 28 de Setembro de 1891 
    António José Laurentino
    Maria Clemente Moreira
    6 - Dia 25 de Setembro de 1891 
    Manuel da Rosa 
    Maria Joaquina 
    7- Dia 31 de Outubro de 1891
    José Laurentino 
    Gertrudes Francisca 
    8- Dia 10 de Novembro de 1891 
    Domingos António 
    Albertina Maria
    9-  Dia 11 de Novembro de 1891 
    Manuel Francisco Pacheco 
    Joaquina Maria 
    10 Dia 9 de Novembro de 1891 
    Joaquim Baptista 
    Maria Rosária 

    A partir do dia 15 de Novembro de 1891 a Paróquia voltou à Igreja de Santo António! 

    Segundo Túlio Espanca, após as grandes alterações da estrutura da Igreja de Santo António (1891), apenas ficou o presbitério da cúpula, que é o espaço onde fica o altar mor do orago Santo António, algumas empenas dos lados e, o portal granítico (ombreiras da porta grande a ocidente, sendo o espaço da Igreja aumentado para o dobro e sacrificado o alpendre), essas partes são primitivas, antes de 1518 (500 anos), tudo o resto, foi novo. 

    Matrimónio na Igreja de Nossa Senhora das Neves 1891




    Povoado de Miguéns - Capelins - 5.000 anos

      Povoado de Miguéns -  Capelins - 5.000 anos Conforme podemos verificar nos estudos de diversos arqueólogos, já existiam alguns povoados na...